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terça-feira, 23 de julho de 2013

A evolução do cérebro em encontrar padrões




Trecho do livro Cérebro e Crença do psicólogo e escritor da revista Skeptics, Michael Shermer



Imagine que você é um hominídeo caminhando por uma savana africana há 3 milhões anos. Você ouve um ruído na mata. Será apenas o vento ou um predador perigoso? Sua resposta pode significar vida ou morte. Se você presumir que o ruído na mata é um predador perigoso, mas for apenas o vento, você terá cometido o que chamo de “erro cognitivo do tipo I”, também conhecido como “falso positivo”, isto é, acreditar que alguma coisa é real quando não é. Ou seja, você descobriu um padrão inexistente. Você conectou (A) um ruído na mata a (B) um predador perigoso, mas nesse caso A não estava ligado a B. Não houve nenhum dano. Você se afasta do ruído, torna-se mais alerta e cauteloso e encontra outra trilha que o leva a seu destino.

Se você presumir que o ruído na mata é apenas o vento, mas na verdade for um predador perigoso, você terá cometido o que chamo de “erro cognitivo do tipo II”, também conhecido como um “falso negativo”, isto é, acreditar que alguma coisa não é real quando na verdade é. Ou seja, você perdeu um padrão verdadeiro. Deixou de ligar (A) um ruído na mata a (B) um predador perigoso, r nesse caso A estava ligado a B. Você será devorado!

Nosso cérebro é uma máquina de crença, um aparelho avançado de reconhecimento de padrões que ligam os pontos e criam significados a partir de padrões que acreditamos ver na natureza.


Quando a associação é verdadeira, aprendemos algo valioso sobre o ambiente, e a partir disso podemos  fazer previsões que nos ajudem a sobreviver e nos reproduzir. Somos os ancestrais daqueles que foram mais bem sucedidos em encontrar padrões. Esse processo se chama “aprendizado por associação” e é fundamental para o comportamento de todos os animais, do C. elegans ao H. sapiens. Chamo esse processo de padronicidade, ou a tendência de encontrar padrões significativos em dados que podem ou não ser significativos.

Infelizmente não desenvolvemos no cérebro uma rede de detecção de besteiras, capaz de distinguir padrões falsos dos verdadeiros. Não possuímos um detector de erros capaz de regular a máquina de reconhecimento de padrões.

Avaliar  a diferença entre o erro do tipo I e o erro do tipo II é muito difícil - especialmente nas frações de segundos que frequentemente determinam a diferença entre a vida e a morte. Melhor é supor que todos os padrões são reais, ou seja, que todos os ruídos na mata são provocados por predadores perigosos, e não pelo vento.

Essa é a base da evolução de todas as formas de padronicidade, inclusive da superstição e do pensamento mágico. Existe no processo cognitivo uma seleção natural de supor que todos os padrões são reais e todas as padronicidades representam fenômenos reais e importantes. Somos descendentes de primatas que empregaram a padronicidade com mais sucesso.

O problema que enfrentamos é que a superstição e a crença na magia está presente muito antes da ciência. Qualquer charlatão que prometa que A vai curar B só precisa fazer publicidade de uns poucos testemunhos de sucesso.

Embora o reconhecimento do verdadeiro padrão nos ajude a sobreviver, o reconhecimento do falso padrão não nos mata necessariamente, e foi assim que o fenômeno da padronicidade suportou o processo discriminatório da seleção natural. Porque precisamos fazer associações para garantir a sobrevivência e a reprodução, a seleção natural favoreceu todas as estratégias de associação, mesmo as que resultam em falsos positivos.


Mariane SD

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