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sábado, 8 de junho de 2013

A obesidade sob uma perspectiva evolucionista

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A obesidade como fenômeno de proporções epidêmicas é uma condição nova na história da humanidade, sendo raros mesmos os casos esporádicos antes de 10 mil anos atrás.

A herança filogenética para a obesidade tem seu apoio no fato de que a maioria dos mamíferos é capaz de comer em excesso, quando há alimento disponível (dietas palatáveis fartamente acessíveis), até alcançar altos níveis de gordura corporal. Assim, a base genética para a maioria dos casos de obesidade humana assenta-se em um período evolutivo ancestral da classe dos mamíferos. Entretanto, os humanos têm potencial acima da média entre mamíferos e primatas para desenvolver obesidade. Supõe-se, então, que os genes favorecedores de avidez, acúmulo, armazenamento e economia de energia devem ter evoluído junto com o processo de hominização. Além disso, para o crescimento cerebral verificado entre os hominídeos  presume-se que também foi necessária a aquisição de mais calorias. Assim, postula-se que haja uma relação entre a seleção de genes para a obesidade e os de encefalização, sobretudo a partir do Homo erectus.

A capacidade para armazenar energia é vital à sobrevivência e à reprodução, e a habilidade em conservar energia em forma de tecido adiposo conferiu ao Homo sapiens vantagens seletivas importantes. A disponibilidade de alimentos, tanto na história primata como dos hominídeos, foi, desde seu início, marcada por distribuição claramente sazonal (períodos de certa fartura e períodos de escassez ou mesmo ausência de alimentos), outro fator que deve ter selecionado genes para a avidez e a conservação de energia. Assim, os genes associados a obesidade, diabete e hipertensão devem ter sido adaptativo no passado remoto da espécie, mas hoje, com as mudanças ambientais, socioculturais e industriais, representam uma ameaça à saúde do ser humano.

Segundo o pesquisador de obesidade e diabete Mário J. A. Saad, essa hipótese do genótipo econômico tem sido contestada nos últimos anos. A contra argumentação baseia-se na sugestão de que a fome prolongada seria um fenômeno relacionado ao Neolítico, ao advento da agricultura e da criação de animais, há 10 mil anos. No período anterior (Paleolítico e Mesolítico), a fome seria rara. Isso é bastante controverso do ponto de vista das evidencias demográficas relacionadas ao Paleolítico, pois a população no Neolítico, pela maior disponibilidade de alimentos, expandiu-se bastante em relação ao Paleolítico. Em várias fases do Paleolítico, a Terra esfriou muito, com mudanças ecológicas profundas que, muitas vezes, fizeram rarear as fontes de alimentos convencionais. Também se argumenta que crianças (importantes para a seleção natural) e velhos (não significativos para a seleção natural, pois passaram o período reprodutivo) seriam os que morreriam mais nos períodos de fome. Porém, velhos quase não existiam no período pré-histórico, quando apenas uma ínfima minoria vivia mais do que 40 anos.

O argumento mais consistente contra a teoria do genótipo econômico é o que propõe que, nos períodos de jejum prolongado, as pessoas morrem mais de doenças infecciosas, por imunossupressão associada À desnutrição. Assim, seriam as pessoas com resposta imune mais eficiente as que teriam vantagens evolutivas. O genótipo econômico seria, na verdade, um genótipo inflamatório. Há evidencias de associação entre genes de armazenamento de energia (relacionados ao tecido adiposo) e os genes do sistema imune e resposta inflamatória. Obesos apresentam um fenômeno inflamatório subclínico, que contribui para a resistência à insulina. O elemento selecionado seria o genótipo inflamatório, e o genótipo econômico, por estar associado ao primeiro, viria atrelado a ele. Há ainda, informa Saad, a possibilidade da herança propícia à obesidade ter chegado a nós por deriva genética, e não por seleção. De qualquer forma, todas essas hipóteses não são exclusivas, podendo ter ocorrido os três fenômenos genético-evolutivos em distintos momentos da pré-história humana.
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Fonte: Evolution Academy

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