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quinta-feira, 30 de maio de 2013

Privação de sono afeta produção de anticorpos

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Dormir poucas horas por noite pode impactar nosso sistema imunológico mais do que imaginamos, afirma estudo do Instituto do Sono, ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O experimento foi coordenado pela pesquisadora Francieli Ruiz e publicado no ano passado no jornal Innate Immunity

A pesquisadora dividiu 32 homens saudáveis de 19 a 29 anos em 3 grupos: o primeiro foi completamente privado de sono; o segundo,só do sono REM; o terceiro funcionou como grupo de controle. A privação de sono variou entre 24 e 48h, período no qual os voluntários podiam ler, ver televisão e mesmo andar pelas instalações do instituto.

O tempo de privação de sono foi proporcional ao aumento do número de leucócitos (células do sistema imunológico que atuam como “guardiãs” do corpo) no sangue dos voluntários que não dormiram. A mudança foi especialmente evidente número de neutrófilos, variedade que combate a maioria das infecções. Esse crescimento, afirmam os pesquisadores, é indício de inflamação sistêmica, que mostra que a falta de sono desencadeou um alerta no organismo. “Dormir é essencial para que o nosso sistema de defesa responda de maneira adequada”, diz Francieli. 

A equipe do Instituto também confirmou outro estudo que mostra que a privação pode reduzir pela metade a produção de anticorpos após receber vacina de hepatite A. “Talvez esta informação seja importante durante campanhas de vacinação, pois, se o indivíduo não dormir bem antes de ser vacinado, seu sistema de defesa não produzirá a proteção adequada ao organismo”, comenta a pesquisadora.

VULNERÁVEIS AO RESFRIADO

Uma única noite de sono reparador não é suficiente para compensar uma sequência de noites maldormidas: ainda que os níveis de neutrófilos e leucócitos voltem ao normal após o descanso, o número de linfócitos T CD4 (responsáveis pela imunidade adaptativa, que é diferente para cada doença) se manteve elevado, e os níveis de imunoglobina (IgA) reduzidos, mesmo depois de três dias de descanso. A IgA está diretamente relacionada à proteção contra organismos capazes de causar doenças e pode ser um dos motivos que torna as pessoas que dormem mal mais suscetíveis ao rinovírus, responsável pelo resfriado comum.

Atualmente, o grupo de pesquisadores analisa o sistema de defesa de trabalhadores em turno. “Ainda não está claro o quanto indivíduos que mudam completamente seu ritmo de sono podem ter a saúde comprometida”, observa Francieli. 

Linfócito T



Estamos dormindo menos e pior. Basta imaginar a rotina de um morador de uma grande cidade, como São Paulo, há quatro décadas. Sem congestionamentos de veículos, chegava-se mais cedo em casa. Sem o apelo de computadores, celulares e centenas de canais na televisão, as pessoas iam para a cama mais cedo. Em média, dormia-se 7 horas por dia. Hoje, essa estatística é de seis horas. “Existe a percepção equivocada de que dormir é perda de tempo ou lazer. Mas cada vez mais a ciência aponta a estreita relação do sono com processos importantes, como o fortalecimento das defesas imunológicas”, diz o pneumologista Francisco Hora, presidente da Associação Brasileira do Sono, em palestra no seminário “Anatomia do Sono”, promovido pela revista Mente e Cérebro no último sábado, dia 18, no Rio de Janeiro. Uma metáfora do que ocorre no cérebro enquanto dormimos, segundo Hora, é a obra “Sono” (1937), de Salvador Dalí – uma enorme cabeça sem corpo, apoiada sobre muletas, sugere que, enquanto estamos aparentemente “desligados”, acontecem inúmeros processos mentais, essenciais para a saúde orgânica e psíquica, como os sonhos.

RESGATE DA SESTA

O cochilo é natural e tem função fisiológica. Dormir por 30 minutos no meio do dia diminui a irritabilidade e contribui para a melhora da produtividade e das relações interpessoais. “Não por acaso, há empresas que já ‘aplicam’ a sesta, resgatando esse antigo costume”, diz Hora. Ele chama atenção para o fato de que, apesar de irmos para a cama muito mais tarde, os horários de entrada na escola e no trabalho continuam os mesmos. À mercê do despertador, submetemos nosso organismo a uma constante agressão.

Como explicou o palestrante Rubens Reimão, neurologista, líder do Grupo de Pesquisa Avançada em Medicina do Sono da Universidade de São Paulo (USP), a luz elétrica mudou totalmente nosso relógio biológico. “A privação de sono é cumulativa. O organismo reage com liberação de cortisol, o hormônio do estresse. Em excesso, essa substância prejudica o sono delta, associado à restauração orgânica”, diz. Também há impactos sobre a capacidade de concentração. A falta de sono está relacionada a acidentes de trabalho e automotivos. Segundo Reimão, 30% da população trabalham à noite ou em turnos que interferem no horário de sono. E a maioria delas não consegue dormir adequadamente de dia, por causa da presença de luz, o que interfere na produção de melatonina, hormônio regulador do sono.

NEUROCIÊNCIA E SONHOS

“Até algumas décadas, a opinião dominante na neurociência era de que sonhos não serviam para nada. Mas hoje se sabe que sonhos são movidos a desejo – isso é ciência”, afirma o neurocientista Sidarta Ribeiro, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). As imagens oníricas podem ter tido uma função importante ao longo da evolução: algumas teorias sugerem que elas são uma espécie de simulação de ameaças. Essas “cenas” foram e são importantes treinar a percepção do risco. Também ajudam na resolução de problemas e no surgimento de ideias inovadoras, os insights. Cada vez mais estudos mostram que as observações que Sigmund Freud fez há mais de um século fazem sentido: o sonho não é apenas um conglomerado de formações psíquicas, mas um caminho real para o inconsciente. Um caminho individual, traçado de acordo com as experiências e emoções de cada pessoa.

RONCAR É “NORMAL”?

Provocado pelo estreitamento (ou obstrução) das vias respiratórias superiores durante o sono – o que dificulta a passagem do ar e causa ruído – , o ronco é um fenômeno comum, muitas vezes não relacionado a nenhum distúrbio. No entanto, quando frequente e irregular, é um dos principais sinais de apneia obstrutiva do sono (AOS), patologia caracterizada por parada respiratória com duração de pelo menos dez segundos nos adultos e dois (ou três) segundos nas crianças. “A dificuldade respiratória geralmente aparece na infância, tanto que a apneia prevalece de 7% a 10% das crianças. Essa herança de uma via área reduzida indica potencial para ser um futuro roncador”, diz o médico do sono Gleison Guimarães, coordenador do Laboratório do Sono do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

As consequências do ronco vão muito além de incomodar quem divide a mesma cama. “A apneia está associada ao maior risco de doenças cardiovasculares e também à piora do sono de maneira geral. Existe o mito de que quem ronca ‘dorme bem’, mas o ronco nunca é sinal de sono reparador”, diz.  O tratamento consiste em controlar fatores de risco (como tabagismo, obesidade, dormir de costas) ou, em casos mais severos, usar um dispositivo, o CPAP (iniciais de pressão positiva contínua) nasal, que melhora o fluxo respiratório e reduz os ruídos e as paradas respiratórias, melhorando a qualidade do sono.




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