Nós nascemos com
capacidade de reconhecer rostos. Um bebê sorri quando vê um padrão que parece
um rosto. O software do reconhecimento facial foi construído pela evolução
devido à importância do rosto em nossa vida. Os rostos são importantes para uma
espécie de primatas como nós.
Por isso, tendemos a
ver rostos em qualquer coisa que se pareça com um. Um rosto famoso é face de Marte, face de santo em janela ou em fumaça. Fenômeno
chamado de pareidolia. Ela também
acontece com sons, sendo comum em músicas tocadas ao contrário, como se
dissessem algo. As figuras observadas, podem assumir um aspecto muito subjetivo
que varia de observador para observador ao passo que outras mais claramente
nítidas, possuem uma mesma interpretação ótica em comum entre vários
observadores. Portanto, tem que ver a condição psicológica de cada observador, o
que se passa em sua mente.
A parte do cérebro onde os
rostos são reconhecidos e processados agora é conhecida pelos neurocientistas. Em
geral nos lobos temporais (acima das orelhas) existe uma estrutura chamada giro
fusiforme, que sabemos que esta envolvida no reconhecimento facial porque,
quando sofre algum dando, fica difícil ou impossível reconhecer o rosto de alguém
e ate mesmo o próprio rosto no espelho! Mais especificamente, existem duas vias
neurais separadas, formadas por dois tipos diferentes de neurônios: um para
processar rostos em geral, pela via magnocelular, células maiores de baixa frequência.
E outro para processar características faciais em particular, pela via
parvocelular, reconhece os detalhes faciais, como nariz e boca.
Além disso, parece que
cérebro processa primeiro a forma global do rosto, como seu contorno, com dois
olhos, nariz e boca, e depois os detalhes. Primeiro ocorre uma rápida avaliação
de que se trata de um rosto, depois o processamento dos detalhes faciais, que
leva um tempo um pouco maior. O primeiro ocorre rápida e inconsciente, enquanto
o segundo ocorre lenta e consciente. O processamento rápido do inconsciente
ocorre antes da percepção lenta do consciente.
O psicólogo Benjamin Libet, em um experimento hoje considerado clássico, mostrou que uma região do cérebro envolvida em coordenar a atividade motora apresentava atividade elétrica uma fração de segundos antes dos voluntários tomarem uma decisão – no caso, apertar um botão. Estudos posteriores corroboraram a tese de Libet, de que a atividade cerebral precede e determina uma escolha consciente.
Um deles foi publicado no periódico científico PLoS ONE, em junho de 2011, com resultados impactantes. O pesquisador Stefan Bode e sua equipe realizaram exames de ressonância magnética em 12 voluntários, todos entre 22 e 29 anos de idade. Assim como o experimento de Libet, a tarefa era apertar um botão, com a mão direita ou a esquerda. Resultado: os pesquisadores conseguiram prever qual seria a decisão tomada pelos voluntários sete segundos antes d eeles tomarem consciência do que faziam.
Nesses sete segundos entre o ato e a consciência dele, foi possível registrar atividade elétrica no córtex polo-frontal — área ainda pouco conhecida pela medicina, relacionada ao manejo de múltiplas tarefas. Em seguida, a atividade elétrica foi direcionada para o córtex parietal, uma região de integração sensorial. A pesquisa não foi a primeira a usar ressonância magnética para investigar o livre-arbítrio no cérebro. Nunca, no entanto, havia sido encontrada uma diferença tão grande entre a atividade cerebral e o ato consciente.
Patrick Haggard, pesquisador do Instituto de Neurociência Cognitiva e do Departamento de Psicologia da Universidade College London, na Inglaterra, cita experimentos que comprovam, segundo ele, que o sentimento de querer algo acontece após (e não antes) de uma atividade elétrica no cérebro.
Patrick Haggard, pesquisador do Instituto de Neurociência Cognitiva e do Departamento de Psicologia da Universidade College London, na Inglaterra, cita experimentos que comprovam, segundo ele, que o sentimento de querer algo acontece após (e não antes) de uma atividade elétrica no cérebro.
A atividade
neural que precede a intenção de agir é inacessível a nossa mente consciente, e
por isso temos a sensação de livre-arbítrio.
Mas é uma ilusão, causada pelo fato de que não podemos identificar a causa da consciência
de nossa intenção de agir. Esse estudos mostram quão profundamente a
padronicidade esta arraigada em nosso cérebro, estruturalmente inserida em
nosso inconsciente e gerando padrões
abaixo de nossa consciência.
O psicólogo Jonathan Haidt, da Universidade da Vírginia, nos Estados Unidos, demonstrou que grande parte dos julgamentos morais também é feito de maneira automática, com influência direta de fortes sentimentos associados a certo e errado. Não há racionalização. Segundo o pesquisador, certas escolhas morais – como a de rejeitar o incesto – foram selecionadas pela evolução, porque funcionou em diversas situações para evitar descendentes menos saudáveis pela expressão de genes recessivos. É algo inato e, por isso, comum e universal a todas as culturas. Para a neurociência, é mais um dos exemplos de como o cérebro traz à tona algo que aprendeu para conservar a espécie.
Ainda que as pesquisas estejam corretas, os próprios neurocientistas reconhecem que a ideia de um mundo sem livre-arbítrio provoca estranhamento. Eles se esforçam, sobretudo, para conciliar sua teoria com o problema da responsabilidade pessoal. "Mesmo que a gente viva em um universo determinista, devemos todos ser responsáveis por nossas ações", afirma Gazzaniga. "A estrutura social entraria em caos se a partir de hoje qualquer um pudesse matar ou roubar, com base no argumento simplista de 'meu cérebro mandou fazer isso'."
Para o cientista cognitivo Steven Pinker, a solução talvez seja manter a ciência e moralidade como dois reinos separados. "Creio que ciência e ética são dois sistemas isolados de que as mesmas entidades fazem uso, assim como pôquer e bridge são dois jogos diferentes que usam o mesmo baralho", escreve ele no livro Como a Mente Funciona. "O livre-arbítrio é uma idealização que torna possível o jogo da ética."
Fontes:
Livro Cérebro e Crença do Michael Shermer
Wikipédia
Revista Veja
Vídeo Big Think
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